quarta-feira, 1 de abril de 2009

desnaturada

O contexto é o seguinte: mãe decepcionada e amargurada com sua filha canta esta música na Ópera do Malandro. Vi a peça em 1978 no Teatro Ginástico, tenho o cd com as músicas da Ópera. Em Uma canção desnaturada, interpretada por Marlene e o autor, o mito da mulher-mãe que ama a seus filhos incontestável e incondicionalmente cai por terra deixando-as mais humanas e alcançáveis.

Uma canção desnaturada

Por que cresceste, curuminha/Assim depressa, e estabanada/Saíste maquilada/Dentro do meu vestido/Se fosse permitido/Eu revertia o tempo/Pra reviver a tempo/De poder/Te ver, as pernas bambas, curuminha/Batendo com a moleira/Te emporcalhando inteira/E eu te negar meu colo/Recuperar as noites, curuminha/Que atravessei em claro/Ignorar teu choro/E só cuidar de mim/Deixar-te arder em febre, curuminha/Cinquenta graus, tossir, bater o queixo/Vestir-te com desleixo/Tratar uma ama-seca/Quebrar tua boneca, curuminha/Raspar os teus cabelos/E ir te exibindo pelos/Botequins/Tornar azeite o leite/Do peito que mirraste/No chão que engatinhaste, salpicar/Mil cacos de vidro/Pelo cordão perdido/Te recolher pra sempre/À escuridão do ventre, curuminha/De onde não deverias/Nunca ter saído

Chico Buarque

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